terça-feira

Entendimento das coisas.

Na noite passada, sonhei que andava pelas ruas tateando as paredes e pedindo que alguém limpasse meus óculos. Assim que acordei, sorri um daqueles sorrisos que você nunca gostou - porque julgava que era um deboche puro e gratuito, e disse qualquer coisa a mim mesma. Entendi imediatamente o sentido daquele sonho. Você sempre limpava meus óculos pela manhã. Sim, é verdade. E eu sempre escrevia sobre coisas simples antes de você. Depois, deixei o tec-tec do teclado de lado e guardei tudo demais.
Agora estou aqui no quarto pequeno, branco. Lá fora, o zumbido da TV ligada só porque assim tem que estar me acompanha, assim como o cheiro de cigarro que está em todo lugar. Minha caixa de bombons está vazia, mas não quero procurar um supermercado às 3 da manhã só para comprar chocolate.
É tudo tão hábito, não é mesmo? Um dia você chegou na sala e disse “Nádia, vou embora. Você não percebe que não te faço mais feliz? Que não nos damos mais bem?!”. Eu balancei a cabeça, concordando. Você se agachou, segurou uma mala marrom, na mão esquerda, algo ainda brilhava, assim como teu rosto nervoso. Você deixou recomendações sobre os cachorros e foi embora sem dizer tchau. Murmurou qualquer coisa descendo as escadas e bateu a porta como de costume.
Eu pensei “será que eu cozinho assim tão mal?!”. E como quase sempre, eu mesma respondi “não, ele não está indo embora por causa disso...”. Depois, pouco tempo depois, percebi que as minhas músicas lentas, doces e tristes nunca te agradaram. Agora estou aqui. Escolhi uma trilha sonora, juntei palavras sinceras e, em poucos parágrafos também me despeço.