sábado

Carta de recomendações

Quando você tiver à beira de um ataque de nervos, bêbado, enlouquecido por qualquer coisa, qualquer música, qualquer pessoa, querendo atirar alguém do alto de algum terraço, cuja vista seja cenário de uma morte bela e inesquecível e premeditada e uma morte de algum amor, um tipo de amor que não foi; quando a embriaguez excessiva te prejudicar a ponto de aquilo tudo que queria dizer se apresentar com outra cor (não em tom pastel, mas num vermelho sangue); quando você pedir mais uma dose em plena terça-feira chuvosa e “mais e mais, por favor!”; quando o teu desespero ultrapassar as barreiras da sanidade; quando a caminhada na areia de praia às três da manhã não for mais, não vá!; quando você disser aquilo que não sente só por vontade de dizê-lo a alguém; quando você não tiver mais tempo para me ver; quando as telas de cinema se desmancharem e as vozes de seus personagens se confundirem; quando as ruínas do tempo começarem; não vá, quando o encontro não der certo; quando a camisinha estourar; quando você sentir frio, medo, fome, desejo, loucura e quando isso tudo não passar; quando nenhuma música te eriçar os pêlos do corpo; quando não houver aquela vontade de receber qualquer carinho ou afeto; quando o sorriso do alvorecer não conter luz alguma ao teu olhar; quando o descrédito dos teus amigos; quando o bolso, a barriga, o coração estiverem vazios; quando a TV, a água, o gás, os pulsos forem cortados; quando, quando; quando, em nenhuma língua estrangeira, brasileira, quando não houver voz; quando a rouquidão, a solidão, a confusão, o tesão te embaraçarem a cabeça de tal modo, vá de encontro. Mas vá!