segunda-feira

Crônica de uma infância caduca





Para meu avô, Francelino (in memoriam)

Os dias estavam quentes. As férias se arrastavam. Brincar de elástico, rodar bambolê. Verão. A moleza no corpo depois do almoço cedia lugar à agitação advinda da compra de picolés “de sobremesa”. De frutas. Doces e tropicais como nunca. E sempre repetidos.
E eu era menina-moleque de shorts vermelhos e sem camisa. Nenhuma malícia. Corria entre meninos, subia na mangueira para fazer pose para as fotografias, comia batom da mamãe no banheiro (mas também com aquele sabor de chocolate...).
Foi quando, num domingo qualquer, no começo da manhã, avistei ao longe fruta que não conhecia. E eram muitas. E de um vermelho vivo e vistoso. Vermelhas, pequenas, delicadas, eram suas condições.
A menina curiosa, cabelos dourados e curtos, macios como a clara do suspiro de limão que a vovó preparava. A sobrancelha num movimento brusco de curiosidade aguçada subia e descia, subia e descia, e subia. A menina curiosa, dedos queimados pela cruel lagarta verde musgo do pé de banana, quis saber se eram de brinquedo. Vovô respondeu que eram tomates para crianças. E nunca mais se viu tomates naquela terra.

Um comentário:

Priscila de Oliveira disse...

Pequena Miss Sunshine!!! Tomatinhos saudosos, esses... Vermelhinhos como a sua roupa e as bochechas safadinhas da levadice... =)