quinta-feira

Esfaimado

Escurece e os olhos de Melissa brilham. Ainda mais. Horas e horas. Os ponteiros dos segundos do relógio de parede antigo já perfizeram o mesmo caminho milhares de vezes. Melissa levanta. O sutiã jaz num canto escuro e poeirento do quarto de Rodrigo. Os diálogos travados por Melissa e Rodrigo ficariam para sempre ali em segredo. “A noite vem vindo, tenho de ir...” O silêncio de Rodrigo que nada queria dizer, pois ele mesmo pensava que depois da ida de Melissa nada seria como antes, nada, nem mesmo o cigarro acendido na escuridão, nem mesmo o copo de vodka com refrigerante, nem mesmo o gelo que se desfaz dentro dele, lenta e progressivamente. Nem mesmo a fome que sentia. Nada seria como antes. O passado e a lembrança dele mostram como nada se repete. Nem mesmo um beijo. Nem mesmo um olhar. Nem mesmo os gemidos de Melissa. Silenciosos. Doloridos. Nada retornaria a ser. “A gente se vê”. “É, a gente se vê.”

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