segunda-feira

ENCOBERTOS

Melissa falava rápido. E revirava os olhos. Pretendia parecer algo que não era. Na verdade, ele também parecia algo que não era. Interrompiam suas frases desesperadas com alguns beijos desnecessários. Rodrigo não compreendia muito bem algumas de suas idéias de menina que se pretende alternativa, moderna demais. Melissa falava rápido. Rápido porque o tempo passava e ela tinha muito a contar.
Os dois compartilhavam segredos. Alguns, sórdidos. Outros nem tanto. Coisas que se sente aos 20, 30 ou 40 anos. Basta estar vivo. “Busco algum equilíbrio.” “Mas equilíbrio é morte, Rodrigo.” Rodrigo falava muito. E acendia um cigarro no outro. As xícaras se enchiam assim como o peito de Melissa ao suspirar, de tanto ouvi-lo. Ao pendurar a cabeça na cama de casal tão confortável, Melissa avistou seus sapatos, vermelhos e sujos, fruto da noite passada. Ela disse que precisava ir embora. Rodrigo a embalou numa cantada barata. Melissa ficou um pouco mais.
Palavras, palavras e mais palavras. Eles se entregaram um ao outro, verbal e corporeamente. Era algo insano e natural. Aquele quadrado branco fora sua testemunha. Os gemidos abafados de Melissa causavam certa estranheza em Rodrigo. Ele se esquecera do denso sangue, do esmalte vermelho, do mesmo rosto pálido, branco de tantas outras, e do discurso batido. Ao sexo fora concedido o silêncio. Por alguns instantes... Melissa havia gozado nos dedos de Rodrigo. Ele sentiu que tremia. De frio e de fome. A sede por palavras a levou a perfurar o silêncio. Muitos segredos seriam contados. Rodrigo, mesmo que impaciente, ouvia e tentava não transparecer a falta de saco que a idade lhe presenteou, naturalmente...

2 comentários:

Unknown disse...

Sedutor, sublime e devasso: A santíssima trindade em ótimas palavras...

Anônimo disse...

Gosto mais quando você escreve sobre coisas mais quentes e repletas ao invés de "coisas" frias. Você é um vulcão prestes a colocar tudo pra fora, sabia?