segunda-feira

Diálogo embriagado

No começo, beijos. Abraços eternos, olhares etéreos... Mas naquele dia:
“Você não vai me entender. Pois então tente explicar. É difícil pra mim... Conte-me! Tente! Eu não sou aquilo que você pensa. Eu tampouco... Não faço parte disso. Eu não quis dizer isso... Eu não quis participar disso. Eu sei. Sabe? Acho que sei. Tá vendo? Um emaranhado de dúvidas e incertezas. É normal. Você apareceu no momento... Errado? Tantas vezes essa frase... Acontece... Acontece? Por tanto tempo... Seria somente sexo? Talvez... Talvez? Isso é lá resposta que se dê? Mas é “talvez” mesmo! Olha, eu não te entendo... Você não entende a si, como pode querer entender os outros? Você tem razão... Me dá um beijo. Não sei, isso me faria sofrer amanhã. Amanhã? Ah, amanhã você vê o que faz... Vem aqui, me beija com toda aquela ferocidade do primeiro encontro de nossos lábios! Não consigo... O hoje é outro instante, diferente daquele. Eu já mudei aquilo que me constituía, sou outra. Única? Isso nunca! O que é hoje, então, tão diferente daquilo que já foi? Agressiva? Desanimada? Desarmada? Falta-lhe amor? Compaixão? Nada a declarar... Assim prefiro. Eu não consigo ser... Ser? Mas se fala comigo neste instante, já é algo que sabe ser. Não é isso. Estou reticente de mim mesma. Nós não conversamos sobre os rótulos... E eles realmente importam? Mas naquele dia do café... Foi só uma opinião sobre o filme... Não sei, havia algo no seu olhar. Algo? O de sempre. Desejo... Isso representa algum problema? Não, mas a questão que somente ele... Isso não é lá muito agradável! Você desaparece...”
E foi assim que, aos berros, se esvaiu mais uma quase história de amor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Crivel, como os passos de Armstrong no solo lunar.. Passa uma atmosfera infectada de bons desencontros, nos moldes convexos e complexos de um Henry Muller gay.Legao. é por ai.